Terapia | HQ aborda, de forma, realista a depressão e a terapia

Dia 10 de Setembro, hoje, é o dia mundial da prevenção ao suicídio, a depressão é uma doença séria que precisa ser discutida para que deixe de ser banalizada, assim teremos uma diminuição nos números altos de suicídio. Pensando nisso, a Pinguim Tagarela resolveu utilizar sua linguagem preferida para falar sobre esse assunto tão presente na vida de muitas pessoas – inclusive a pessoa que aqui escreve – a arte. 

Sinopse: 

Terapia é a história de um garoto que, mesmo tendo uma vida normal, não se sente feliz. E, o fato de não identificar o motivo de sua angústia, o leva a se afogar em um infinito de questões. Contudo, na sala de seu terapeuta, passa a explorar seu presente, suas inseguranças, mergulhando fundo em recordações nebulosas, pela busca do eu. Enquanto constrói e desconstrói tudo o que sente, vive e deseja, refugia-se em velhas canções de blues – visualmente bem expressadas nesta instigante HQ –, cujas letras empoeiradas parecem explicar o mundo (e a si mesmo) de forma muito mais satisfatória.

Com roteiro bem escrito, cores e ilustração que nos trazem a dimensão daquilo que é sentido pelos personagens, Terapia, uma webcomic, ou seja, temos fácil acesso por toda a história na internet, uma vez que foi publicada numa plataforma para tal propósito – a Petiscos. O quadrinho tem três criadores: Marina Kurcis, atua juntamente com Rob Gordon na elaboração do roteiro e Mario Cau trabalha nas cores e traços da webcomic trazendo um quadrinho que transpõe a realidade e fala muito bem sobre depressão e terapia, o quanto esta é importante, pois acompanhamos o resultado dela na vida do protagonista.

Falar sobre problemas psicológicos nunca é fácil, sempre envolve muitas questões, comecei terapia há uns dois, três anos atrás, quando digo isso quero dizer consulta com a psicóloga, não o quadrinho. E passei por um enorme processo para reconhecer, aceitar e até mesmo admitir que eu tenho depressão, pois em nossa sociedade atualmente, aqueles que possuem problemas psicológicos são vistos como mais fracos, o que passa bem longe de ser verdade, a gente é forte por viver a cada dia com uma doença horrível e séria que leva muitos a morte. Depressão não é algo que tenha cura, ao menos até hoje, mas é algo tratável em que há profissionais aptos a trabalhar conosco para ter controle dela. Muitas pessoas nem chegam a ir em tratamento, seja por desconhecer a doença que possui, seja por preconceito, seja pelos dois, seja por n razões. Por isso, é necessário que nós venhamos a falar bastante a respeito, desmistificar toda essa ideia absurda que temos da terapia, e falo isso, pois tive que passar pelo processo de enxergar como algo normal ir às consultas, algo que não devo me envergonhar.

E, o quadrinho que li recentemente, esse ano, parece que falou muito diretamente comigo, pois esse é o cuidado que seus criadores tiveram, de tornar aquilo mais próximo da realidade, apesar de não representar todos os tratamentos que existem, pois temos que ter em mente que quando lidamos com pessoas e suas mentes não é algo geral, é algo único e diferente. Mas, para muitos a sensação vai remeter às suas próprias trajetórias, pois o garoto protagonista é uma representação humana, ele passa pelos mesmos dilemas que muitos de nós passamos. Ele tem problemas que muitos de nós temos, o conflito dele se assemelha ao nosso. E a sua busca por ajuda na terapia, nos remete quando nós demos o primeiro passo de ir lá, o que para muitas pessoas com depressão é difícil, é, por isso, uma vitória. O crescimento do protagonista nos leva a analisar o nosso quando começamos a consultar, às vezes temos até mesmo a mesma vontade que ele tem de parar de ir, mas no fundo sabemos que precisamos continuar indo, pois é naquele tempo, naquele espaço que conseguimos, muitas vezes, nos expor, falar e nos conhecer. Pois terapia, sobretudo, é isso autoconhecimento. É isso que vemos na história da webcomic, um crescimento, uma aprendizagem, um conhecimento sobre si próprio, é o que o garoto descobre, coisas sobre ele que nem ele mesmo sabia. 

Em diversos momentos, há uma intensidade de emoções que parece que atravessa os quadros e vem em direção a gente, nos faz pensar, nos faz sentir, nos traz lembranças de muitas coisas, de muitas situações, de muita evolução e aprendizado que tivemos. Isso sob a visão de quem faz acompanhamento psicológico. Para quem não tem essa experiência, aproveitará também os ensinamentos contidos em cada quadro, para quem não tem a depressão também irá tirar proveito, pois precisamos aprender a olhar para o outro, não é porque não sentimos que o que o outro sente deve ser ignorado. É sempre muito bom conhecer mais sobre a questão para que não sejamos aquela pessoa que reforça os preconceitos a respeito das doenças psicológicas. Temos responsabilidade pelo o que dizemos ao outro, sempre temos. 

A história de Terapia vai sendo muito bem construída, pois nos permite dialogar dessa forma, tanto a arte quanto o texto trazem essa dimensão de verossimilhança. O que agrega ainda mais para a qualidade do quadrinho, pois tanto sua arte quanto sua parte escrita caminham juntas, nos trazendo uma experiência incrível e talvez, em diversas situações, até mesmo sensoriais e emocionais. 

Há o cuidado em se utilizar o silêncio, às vezes, não temos a dimensão do quanto ele fala muito alto, principalmente, talvez, com pessoas depressivas. Portanto, o silêncio é muito bem empregado a fim de ter muito a nos dizer, as cenas tem muito a nos mostrar mesmo que não tenha uma explicação para cada coisa que acontece nela. Isso eleva mais uma vez a qualidade da obra. 

Algo que me agrada demais na história é que a terapia não é um processo fácil e vemos isso em cada situação, permanecer indo às consultas é uma vitória, pois a gente acaba conhecendo um lado, ou mais, nossos que não gostamos e ficamos mal, mas melhora, é um processo doloroso e importante. E a HQ mostra exatamente isso.

O protagonista não tem seu nome dito, em momento algum, e há poética nisso, pois toda sua trajetória pode ser descrita como a nossa. Como a sua, como a minha, como a nossa. Afinal, até mesmo porque muitos dos dilemas dele são comuns aos seres humanos, como a busca pela compreensão de si próprio e do mundo. Algo tão necessário a nós, pessoas, algo que a gente nunca para de buscar, pois estamos sempre mudando.

Terapia é embalada ao som do blues, o que poderíamos até dizer que passa a ser um personagem nessa história, pois sua presença é marcante, não só pela relação do protagonista com ele, mas principalmente pela sua própria história e letras que encaixam e falam perfeitamente sobre as situações que estamos passando. Terapia nos revela que blues e psicologia se dão muito bem. Enfim, essa resenha, talvez, tenha sido uma das mais pessoais, mas de extrema importância nesse dia, pois depressão e suicídio são coisas reais, que precisam ser faladas, conversadas e discutidas. São coisas que precisam ser conscientizadas. Hoje, dia 10 de Setembro, coloque a mão na consciência e não relativiza depressão só porque ela não faz parte do teu dia a dia, tem muitas pessoas sofrendo com ela para ser reduzida a “falta de Deus”, a “vontade de chamar a atenção” e demais absurdos que seguem sendo repassados. Depressão é assunto sério, volto a frisar e precisa de tratamento. 

Terapia ganhou o Troféu HQ Mix de melhor webquadrinho em 2011 e em 2013. A HQ possui diversos easter eggs, referências e ligações a elementos, até mesmo, dentro do próprio quadrinho. Você pode ler gratuitamente através da Petiscos ou se tiver interesse em ter a obra em mãos, ela ganhou uma edição encadernada da Novo Século. 

Tagarelem conosco: Sabia que hoje é o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio? Estaremos trazendo conteúdo sobre filmes, séries, livros que abordam o assunto devido ao Setembro Amarelo, então se tiver alguma coisa para nos indicar, será muito bem vindo.

Até a próxima tagarelice e lembrem-se que ler essa HQ é quase uma terapia!

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