Onde Está Você, João Gilberto? | É a uma busca solitária e delicada do ídolo

O documentário é inspirado no livro Ho-ba-la-lá: à procura de João Gilberto, lançado no Brasil pela Companhia das Letras, do jornalista alemão Marc Fisher. Em Onde Está Você, João Gilberto? O diretor francês Georges Gachot refaz os passos de Marc a fim de tentar se encontrar com o grande artista.

Sinopse:

O cineasta Georges Gachot decide ir ao Rio de Janeiro em busca do recluso ícone da música brasileira. Com a ajuda de parentes, antigos amigos e conhecidos do criador da lendária batida de violão da Bossa Nova, Gachot tenta desvendar o mistério que envolve sua existência e encontrá-lo para fazer um pedido muito especial.

O diretor é conhecido por ser um nome de peso na direção de documentários musicais, inclusive, em seu currículo há títulos brasileiros como Música é Perfume, com a Maria Bethânia; Rio Sonata, com Nana Caymmi e O samba, com Martinho da Vila. Dessa vez, acompanhamos a busca de Gachot pelo ícone da Bossa Nova, João Gilberto, que vive há mais de 30 anos uma vida reclusa, sem aparição em nenhuma mídia. A pergunta que não nos abandona em toda essa busca é: O que levou o artista a se manter isolado? No entanto, o grande enfoque do documentário, não é responder tal pergunta, mas compreender a obsessão na figura artística.

O jornalista Marc Fisher, que criou uma narrativa sherlockiana sobre sua busca e obsessão pelo ídolo, se matou em 2011 pouco antes do livro ser lançado. É com essa missão de homenagear e talvez conseguir o que Fisher não conseguiu, que Georges embarca nessa aventura, que mal sabia ele, solitária. O documentário é sensível e tocante ao nos representar isso, a câmera de Gachot pega incríveis cenários ao longo do Rio de Janeiro, nos mostra as inúmeras janelas nas quais poderia estar o astro; os lugares pelos quais ele poderia passar, estar e entrar. No entanto, também nos é mostrado a solidão, o ídolo que não se mostra, a obsessão em encontrar alguém que não ser encontrado, seja lá por quais motivos. Nos mostra um Rio de Janeiro enorme, de infinitas possibilidades, todas em que João não se encontra. Essa aura enigmática e sombria é também proveniente da narrativa criada pelo próprio Marc em seu livro, mas que a câmera de Gachot consegue captar tão bem.

No filme, o cineasta entrevista músicos que foram próximos ou tiveram algum contato com o cantor, como Miúcha, ex-mulher de João Gilberto e mãe de Bebel Gilberto, João Donato, Roberto Menescal e Marcos Valle. Nesses momentos, conhecemos outras facetas do artista, seja pelo pouco que demonstrou ser a cada um, somos levados a momentos nostálgicos daqueles que João deixou para trás.

Segundo o próprio Georges: “O filme tem um lado documental e outro de ficção. Você não sabe o que é verdade ou que não é. Talvez seja melhor não saber exatamente.” E isso é incrível, pois em paralelo com a busca, temos os próprios pensamentos do diretor dando a noção do que se passa com ele nessa trajetória, tornando pessoal e investigativa. Uma certa análise sobre a obsessão, que em diversos momentos ele se pergunta se não está se perdendo nisso. O roteiro é genial em todos esses aspectos, em sensibilidade, em homenagem, em pessoalidade. A gente sente tudo. O suspense paira sobre a atmosfera do documentário o tempo todo e a tristeza também da figura não se estar mais presente, daquele que tanto faz falta para aqueles que eram antes tão próximos dele. O suspense do vazio, da solidão que João deixou e deixou nos alimenta durante toda a duração do filme. A trajetória nos é ao mesmo tempo reconfortante e frustrante; reconfortante por todo carinho ao prestar homenagem ao artista, a bossa nova e a cultura brasileira; e frustrante por não presenciarmos a figura de João, porque nessa busca não sabemos dizer João foi, de fato, encontrado, mas com um final que nos deixa acreditar naquilo que quisermos.

No entanto, o documentário tem muito a nos acrescentar, seja nos proporcionando enxergar a vida real através dos olhos do cinema, seja por nos trazer estudos sobre as pessoas e o quanto são complexas, ou seja por nos mostrar que, às vezes, as coisas são mais sobre a gente mesmo do que aquele a quem admiramos. Como é o caso do Georges e do Marc, Onde Está Você, João? é muito mais sobre o que o artista representa para eles do que, de fato, o artista é. Mas, não se engane, João está presente, tanto musicalmente quanto no coração daqueles que tanto o prestigiam.

Enfim, o documentário se constrói sobre o legado deixado por João, um dos criadores da Bossa Nova e considerado pela Rolling Stones o segundo maior artista brasileiro de todos os tempos, sobre a busca incessante e talvez idealizada de um artista que conversa muito sobre nós mesmos no cenário atual. Mas, que sobretudo, serve como uma homenagem poética a todos os fãs do artista, que nessa solitária jornada, não o encontram.

Tagarelem conosco: Gostam de documentários musicais? Ficaram com vontade de acompanhar Gachot nessa busca?

O documentário estreia dia 23 de Agosto (hoje) nos cinemas.
Até a próxima tagarelice e lembrem-se a arte imita a vida!

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