A Voz do Silêncio | A solidão é barulhenta

Não é à toa que Criolo canta Não Existe Amor em SP e tampouco não é a toa que a música faz parte da trilha sonora de A Voz do Silêncio. Acompanhamos a vida de algumas pessoas, de forma bem misteriosa e sutil, tentamos compreender o que conecta essas pessoas e constatamos que é a forte presença da solidão. Não obstante, a solidão faz um barulho estridente.

Sinopse:

Um olhar atento varre a cidade grande e suas pessoas anônimas, que vivem suas vidas em tensão para a sobrevivência, resignados com o destino de cada um. Uma realidade onde os sentimentos e emoções perdem seu significado original consumidos pela urgência de novos valores. Um eclipse lunar pontua as mudanças nas vidas dessas pessoas que compõem um mosaico da cidade.

Em contraponto, temos ainda uma cidade palco da urbanização, do avanço da sociedade, uma cidade globalizada. Logo, a câmera do diretor André Ristum percorre as cores e os sons dessa cidade chamada São Paulo e tem muita agitação, muito engarrafamento e muito barulho. No entanto, olhando para a vida dessas pessoas, dos protagonistas, olhando pra dentro da sua casa, olhando pra dentro deles, percebemos que a um silêncio causado pela solidão e ela é gritante e dolorosa.

A vida não é fácil para ninguém e acompanhamos justamente isso, os problemas dos protagonistas. Temos problemas de relacionamento entre mãe e filhos, patrão e empregado, a avó e neto. Vemos ainda problemas de saúde, a idade avança para todos e nem sempre ela é bondosa. Vemos a saúde mental dessas pessoas fragilizada. E, principalmente, vemos problemas sociais e dentro de toda essa narrativa que acompanha a vida de um grupo de pessoas que entendemos a crítica a sociedade dita desenvolvida.

Até que ponto essa agitação, esse estresse, ansiedade causado pela forma de vivermos em sociedade tem nos adoecido. Por que não temos empatia para com o outro? O que o longa mostra é justamente isso quantas vezes cruzamos e temos nossa vida interligada com outras pessoas, mas por estarmos tão focados em seguir com nossa vida dentro desse sistema, que não percebemos que contribuímos para um adoecimento coletivo. É gente machucada que machuca outras pessoas e na grande maioria das vezes sem se dar conta. A solidão é companheira de todos e ela faz um barulhão que doi no ouvido, no corpo, na alma das pessoas.

E nisso, o cinema latino ganha pontos, por fazer críticas ao que seria mesmo um país desenvolvido. É aquele carente de afeto, de relações fragilizadas? É aquele em que submete algumas pessoas à pobreza? É aquele em que há abuso de poder e hierarquia? A maior pergunta é: cadê o amor em SP?

E, principalmente, a falta de amor em SP não é uma falta de amor em outras cidades do nosso Brasilzão? Não é uma falta de amor em outros países cujo a denominação é desenvolvida? O que toda essa forma de viver em sociedade e todo esse sistema tem feito conosco. Decadência. Sofrimento. Falta de afeto. Egoísmo. E uso de poder. Hierarquização. Abuso desse poder. Pobreza. Decadência humana.

É um ciclo que se alimenta sem que a gente tenha consciência da nossa participação. O eclipse lunar é metáfora de anúncio do fim do mundo, mas também representa não o fim daquelas formas de viver, daqueles sofrimentos, mas talvez representa a mudança na vida dessas pessoas.

A Voz do Silêncio apresenta histórias aleatórias que se cruzam em sua narrativa e mostra a relação humana sob a influência exercida pela cidade grande.

O longa tem, sim, vários bons elementos. Principalmente, sua mensagem. No entanto, há algumas falhas, sendo uma delas o ritmo, talvez, por se tratar do cotidiano, muitas vezes, A Voz do Silêncio acaba sendo bem lento, meio pausado. Veja bem, a premissa é muito interessante e as críticas também, mas estaria mentindo se dissesse que em nenhum momento, minha mente agitada, não tivesse ficado um pouco entediada e inquieta. Ou até mesmo dispersasse.

Outro problema é justamente com relação a montagem desse mosaico de vidas e pessoas, temos trocas de cenas muito bruscas, cortes que sem transição nos deixa meio incomodados, pois há quebra de clímax, estamos acompanhando a cena e tentando entender o que ela significa e não dá tempo porque logo em seguida já estamos em outra cena passando pelo mesmo processo.

Enfim, em A Voz do Silêncio, a solidão é personagem principal e tem inúmeras falas, todas muito barulhentas. O longa é intenso e dramático, nos conseguindo levar a sentir a dor do outro na tela, o sofrimento. E constatar que a solidão é universal independente de gênero, raça e classe, mas, claro, alguns bem mais que outros devido às opressões. A Voz do Silêncio é um filme brasileiro que apresenta muitos acertos, mas também falhas, no entanto, isso não deve ser empecilho para prestigiarmos o cinema latino e brasileiro. Afinal, é um tocante que atinge a todos nós, seres humanos, vivendo em grandes cidades cheia de pessoas, mas também cheia de solidão. Em cidades grandes onde não existe amor.

O longa estreia hoje dia 22 de Novembro nos cinemas!

Tagarelem conosco: Costumam se interessar por filmes brasileiros e que abordem questões da humanidade?

Até a próxima tagarelice e lembrem-se, essa tua solidão é coletiva!

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