A Missão | É recheado de críticas a sociedade brasileira

A Missão é uma distopia nacional escrito pela Stefani P. Paludo, que possui outras obras publicadas na plataforma Wattpad, o livro publicado pela Editora Hope, tem como trama central a tomada de poder do atual governo de Tazur, que pouco se importa com a população e muitas vezes até a engana. O mais interessante da literatura nacional é que passamos a nos enxergar na história, culturalmente, uma vez que cria essa identidade nacional, de localidade mesmo, com os problemas reais daqui e é isso que encontramos em A Missão, diga-se de passagem a Stefani consegue desenvolver isso de forma magistral, utilizando o que temos de mais precioso, a Amazônia.

Sinopse:

Após uma doença que devastou a humanidade, um único país sobrevive em meio à Floresta Amazônica. Uma sociedade semelhante as anteriores, onde desigualdade, miséria e corrupção predominam. Um governo negligente e com poderes ilimitados permanece no poder, satisfazendo apenas suas próprias necessidades. Um grupo de amigos decide agir e forma um grupo revolucionário e secreto, denominado “A Missão”. Seu principal objetivo é tirar os governantes do poder e implantar a democracia. Os principais líderes têm cargos de confiança ligados aos governantes e vão tramar dentro de seu próprio Palácio para derrubá-los. Mas como realizar o plano?  Até que ponto conseguirão novos aliados sem colocar tudo em risco? Irão conseguir o apoio do povo? Os fins realmente justificam os meios quando a vigilância é constante e a confiança uma raridade?

Já no prólogo temos a alternância entre as histórias e entre as diferentes perspectivas, isso já nos dá o tom que a narrativa vai se desenvolver, uma vez que avançando na leitura perceberemos cada vez mais o quanto isso é presente em detrimento das figuras principais dessa missão que eles vem planejando. O prólogo serve para nos situar brevemente no contexto social em que se encontra aquela civilização, nos explicando como a doença dizimou grande parte da população. Em vista disso, uma narrativa como uma notícia televisiva se revela de extrema necessidade e casa bem com a proposta que a autora quer passar com aquela situação na história. Isso também já nos diz que a escritora sabe nos passar informações sem ser de forma expositiva.

A atmosfera é envolvente desde o principio, os personagens são, em sua grande maioria, cativantes e bastante interessantes. Queremos acompanhar seus desenvolvimentos e os conhecer mais ao passo em que estamos lendo. Suas personalidades são bem desenvolvidas e seus ideais são bem pontuados, algo extremamente importante para que possamos entender quais seus papéis dentro da revolução. 
Há personagens femininas em várias esferas da sociedade, mas as principais ocupam lugares opostos, sendo uma governante e a outra uma militar, mas ambas possuem algo em comum, o machismo vivenciado por ambas ocuparem cargos ditos masculinos. As personagens fogem de esteriótipos comuns, que estamos cansadas de presenciar, pelo contrário, elas apresentam camadas de complexidade, motivações diferentes e são bastante humanas. Essa é a incrível vantagem de ler livros escritos por mulheres.

A história não só se passa no Brasil como retrata muito bem nossa realidade política, tirando de debaixo dos panos toda a desigualdade que o governo tenta esconder e manipular a verdade por meio dos canais midiáticos. Tentando vender uma imagem que de longe se mostra real. Há muita miséria sustentando um sistema que privilegia os ricos, os detentores de poder. O contraste de quem ocupa a parcela alta da sociedade, com luxuosidade, enquanto quem ocupa as parcelas inferiores, passa por situações desumanas. Isso se desenvolve dentro do capitalismo, que sabemos ser utilizados como ferramenta para subjugar as populações mais pobres em detrimento dos dotados de capital. O quão obsoleta as coisas ficam e assim precisam ser repostas, o quanto muitos trabalham apenas para se manter nesse ciclo de ter o necessário. É algo muito presente no nosso próprio dia-a-dia.

No meio disso tudo há repressão a pluralidade, ao diferente, ao diverso, pois quanto mais plural for mais difícil é de manter o controle da população. Criando unificações facilita o controle sobre as pessoas, mais simples é a manipulação e com maior facilidade se consegue criar alienação. O livro é muito inteligente ao usar todas essas questões políticas, religiosas, econômicas e midiáticas para revelar toda a sujeira que permeia nossa sociedade, como todos podem ser ferramentas na mão daqueles que querem nos manter refém de um sistema que não visa nos beneficiar se não formos daquele meio.

Confesso que fiquei meio apreensiva quando soube que o golpe seria ministrado por militares, pois em nossa história é bem conhecido que nenhum governo iniciado por golpe, sobretudo militar, resultou em algo democrático, pelo contrário se tornou em um totalitarismo. Mas, é interessante perceber que a autora nos descreve as diferenças entre golpe e revolução, nos deixando ciente do que significa aquela missão que os personagens estão se envolvendo, além de citar que os personagens líderes do golpe não representam todo sistema militar, os revela mais como seres individuais do que seres que simbolizam aquele coletivo. Inclusive, temos várias críticas ao militarismo, suas limitações, a sua lealdade exacerbada, o servir sem a ninguém questionar, a forma como são treinados e o quanto podem vir de uma educação que tende a manipular.

“Era um dos grandes defeitos dos militares. Nos considerávamos superiores a tudo e a todos, éramos arrogantes e não tolerávamos pessoas diferentes de nós.”

“Não é comum ver militares falando mal do governo.

Durante toda leitura tínhamos o questionamento de será que é só de boa intenção que se desenvolve mudanças? Será que os militares seriam os melhores para governar? E se ter sobrevivido a doença teria sido muito melhor do que não ter. Podemos ver isso, claramente, nesse trecho:

“A desculpa de um bem maior, de conseguir realizar o plano da missão e melhorar a vida geral da população não justificava de forma alguma o sacrifício de tantos.”

Além de abordar questões de extrema importância, A Missão consegue se destacar também por não possuir descrições enormes e maçantes, longe disso, por terem um plano a executar temos um maior enfoque nos personagens, em suas falas e ações, o que permite que a leitura se desenvolva de forma acelerada, nos envolvendo em euforia, surpresas e tensões.

Enfim, A Missão é uma distopia para aqueles que amam ação e críticas que transcendem sua época, é com certeza, um livro em que daqui há um tempo quando for lido ainda será bastante coerente e condizente com a sociedade em que vivemos. O final é deixado em aberto podendo termos a oportunidade de pensar em uma possível continuação. Que A Missão continue.

Portanto, o livro recebe:
(5 de 5 Pinguinzinhos)

Tagarelem conosco, vocês gostam de distopias? Conhecem alguma outra que se passe no Brasil? Me digam que ficaram com vontade de ler, pode admitir, eu sei que sim!

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Até a próxima tagarelice e lembrem-se de se preparar para A Missão!

2 Replies to “A Missão | É recheado de críticas a sociedade brasileira”

  1. Oie, tudo bem?
    Primeira vez te visitando. <3
    Adorei a dica. Gosto de livros que nos fazem refletir, especialmente na atual condição brasileira (em que corremos riscos quanto a nossa democracia).
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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