A maior convenção do mundo bruxo volta presencial.

Contando com a presença de muitos bruxos, bruxas e bruxes, a edição deste ano da MagicCon aconteceu em um sábado mágico: 22 de Outubro. Os fãs lotaram o espaço do Teatro do Bourbon Country para prestigiar os painéis, as Travessas – sejam das gostosuras ou dos artistas – e os estandes especiais. 

Por trás da realização do evento está o Grupo Alohomora, que busca sempre trazer o encanto das obras da autora J.K Rowling para Porto Alegre – como abordado na conferência, algo que os organizadores sentiram falta na cidade – conhecido por apresentar, na primeira conferência em 2017, quando o nome ainda era PotterCon, o grande sucesso “A Very Potter Musical”, uma versão nacional, o grupo também esteve envolvido no aniversário de 40 anos de Harry Potter em uma celebração com drive-in. 

Apresentado por Jaqueline Marques e Joceli Raymundo Guedes, a cerimônia começou às 10h e se encerrou às 22h. Sendo, uma novidade ao evento, que costumava se dividir em dois dias.

Painel João Cappelli

O primeiro painel do dia foi protagonizado pelo dublador do Draco, um sonserino fervoroso. Além de dar voz ao antagonista da série, João Cappelli é também ator e diretor de dublagem. Com muito bom humor, por vezes brincando de não responder a grifinórios, o dublador levou os fãs ao delírio quando citou uma das falas mais icônicas de Draco – segundo o  próprio Cappelli. 

Quando questionado sobre suas referências na dublagem, respondeu que seria o Élcio Romar, conhecido por dublar o Sirius Black, Júlio Chaves e Alexandre Moreno. Ainda ressaltou que para ele um bom dublador se destaca estudando, buscando entender o texto e tentando trazer originalidade. 

A identificação com Draco Malfoy foi inesperada, quando começou a dublar o personagem, João não imaginava a repercussão que teria, uma vez que havia apenas três livros publicados quando o primeiro filme foi lançado. Conforme ele foi conhecendo o Draco, foi compreendendo a importância do arco narrativo do antagonista, mais apreço foi se desenvolvendo por ele. 

– O Rony tem uma mudança também, ele primeiro é o alívio cômico, depois ele é o que salva o grande amigo. O Harry é o Harry,  é um mocinho chato, mas o Draco ele começa com aquela carga de ser o vilãozinho, de ser o bully do colégio. Aí ele vai crescendo, vai virar um comensal da Morte. Vai matar o Dumbledore e volta atrás – Comenta Cappelli sobre a evolução dos personagens – Ele quer fazer porque quer a aprovação do pai, mas ele não vai realmente fazer porque o Draco não é mau, ele foi influenciado pela família a ser daquele jeito, mas não é – acrescenta.

Cenas que precisam de maior carga emocional tendem a ser mais complexas de serem realizadas pelos atores, o mesmo ocorre quando é necessário imprimir essas emoções com a voz.

– Eu assisti essa várias vezes para conseguir fazer, então você conseguir colocar toda essa emoção de choro, de raiva, de pena, de arrependimento é muito difícil e foi muito maneiro de fazer. É uma das melhores cenas tanto do meu trabalho quanto do trabalho do Tom Felton. Ali é onde o Draco mostra que ele não é como queriam que ele fosse – Ressaltou ao lembrar do momento em que o personagem estava em conflito ao matar Dumbledore.

Cappelli encerra o painel refletindo sobre o legado de Harry Potter e afirma ter notado nos eventos o quanto esse amor pela obra vai passando de geração para geração. 

Painel Protego: Abraçando a Comunidade Trans

Um feitiço muito especial dá nome ao painel, Protego é uma potente forma de proteger alguém: uma barreira mágica invisível é criada ao redor da área determinada pelo bruxo que o conjurou. E, foi assim, com essa sensação de cuidado e acolhimento que os fãs puderam conhecer e ter a honra de escutar duas bruxas incríveis.

Freda Corteza é professora de Artes, autora e ilustradora da coleção Princepxs, histórias que tem a proposta de recontar os contos de fadas com mais representatividade. Atualmente, ela pesquisa gênero e sexualidade no programa de pós-graduação em educação na UFRGS.

Raika Severo é presidente municipal do PDT Diversidade pela cidade de Viamão, além de ser graduada em biblioteconomia pela UFRGS. 

Sob muitos aplausos, elas contam um pouco sobre sua relação com Harry Potter e como se deu o primeiro contato com o mundo bruxo.

– Eu comecei a ler Harry Potter em seguida do lançamento, ingressando na faculdade de Letras, em uma aula levaram o livro em inglês. Eu fui entendendo que essa liberdade de Hogwarts também remetia,  muitas vezes, a minha própria sexualidade. Quando vem aquele primeiro capítulo do menino que vivia no armário embaixo da escada, aquilo ali despertou um sinalzinho de que há uma representatividade para toda a comunidade LGBT. Então, a gente tem que estar se escondendo para ser quem é, seja um bruxo, uma bruxa ou um bruxe, né? Quem é LGBT, muitas vezes, se vê vivendo no armário embaixo da escada e receber a cartinha de Hogwarts é como uma libertação, é como mostrar para a gente que podemos ser quem a gente quiser – Comenta Raika.

O mundo criado pela J.K Rowling teve um importante impacto para a comunidade LGBTQIA+ que encontrou na obra uma forma de se refugiar e até mesmo de se aceitar. Sendo assim, as declarações transfóbicas da autora causaram um enorme baque. 

– Então o que acontece com a JK hoje é muito triste. Mas, tem várias histórias da literatura fantástica que sempre estiveram aí, né? Não começaram com Harry Potter, e também não vão terminar em Harry Potter, vai muito além, tem muitas outras escolas de magias espalhadas.  Então eu acho que  Hogwarts é uma delas e a gente tem que conhecer as outras também, né? Inclusive aquelas que foram criadas por autores e pessoas da comunidade LGBT – Sugere Freza – Eu acho que é isso, a gente tem que abrir mais os nossos horizontes para onde tá essa magia e o que essa magia provoca na gente, né? E esquecer um pouquinho quem é J.K Rowing, Enfim, torcer para que um dia entenda o mal que ela faz hoje para a comunidade e entenda toda essa representatividade que ela tem – Completa a autora.

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Em um momento de descontração, Raika brinca com sua idade ao comentar ser uma senhora, no que prontamente Freza rebate dizendo que a companheira de palco é jovem e finaliza Raika: “Meu bem, sabe que a gente usa a pedra filosofal faz anos. Flamel que lute.” Arrancando alguns risos da plateia.

Por ter família cristã, Corteza não tinha a liberdade de ler ou ver os filmes de Harry Potter, então quando teve a oportunidade quis absorver tudo o que podia da obra.

– Teve um aniversário meu que eu fiz maratona de todos os filmes de uma vez, foi a minha comemoração de aniversário. E acho que esse foi o meu momento de receber a cartinha de Hogwarts, de conhecer finalmente todas essas possibilidades.

O espelho de Ojesed tem o poder de mostrar o mais profundo e mais desesperado desejo de nosso coração. Quando questionada por um membro da plateia sobre o que gostaria de ver no espelho, Raika responde:

– Eu gostaria de me ver hoje, porque se eu fosse levar em consideração que eu teria 12 anos, né? Eu ia querer me ver com os 42 anos que eu tenho hoje porque é o sonho da gente. Toda pessoa viada quer saber como é que a gente vai ser quando crescer. Acho que eu não iria almejar outra coisa que não fosse ter satisfação comigo mesma. 

Com uma visão um pouco diferente sobre o espelho, Freza traz uma reflexão sobre literatura e realidade:

– Tem uma passagem da Pedra Filosofal que eu acho que simboliza muito o que é a literatura fantástica, que é quando o Roni e o Harry encontram o espelho dos desejos. Olhando para aquele espelho eles conseguem enxergar aquilo que eles mais desejavam e a literatura fantástica é mais ou menos isso, né? Quando lemos um livro, estamos olhando com um espelho que vai nos mostrar as coisas que a gente mais deseja que existam na realidade.

Show com Malus: Quarteto de Cordas

Uma das atrações que encantou o público foi a apresentação do quarteto Malus. Formado por Dhouglas Umabel (violino), Júlia Varini (violino), Diego D’ávila (viola) e Isadora Gehres (violoncelo), o grupo tocou algumas músicas que compõem a trilha sonora dos filmes.

Algumas das músicas tocadas foram: Hedwig’s Theme de John Williams, Professor Umbridge de Nicholas Hooper

Painel Élcio Romar

Conhecido por dublar o icônico Sirius Black, Elcio levou os potterheads à loucura quando tirou um papel do bolso em que continham duas frases que mais gostava de seu personagem. É incrível o quanto a sua voz caracterizou o personagem, é impossível não reconhecer e recordar Sirius ao ouvir Elcio falando. 

Além de dublar, Romar é também ator, atuando em novelas conhecidas como Fina Estampa, Caras & Bocas e A Gata Comeu. Quando questionado sobre como começou a sua carreira na dublagem, ele conta:

– Eu me encantava com aquilo [Radionovela], transmitir a emoção através da voz é uma coisa complicada. Eu sempre fui apaixonado por radioteatro, então quando eu cheguei numa certa idade, eu fui em uma dubladora para fazer um teste. Ano que vem isso vai fazer 50 anos para vocês terem uma ideia. Então, uma semana depois eu já estava dublando um filme do Elvis Presley.  E, eu fiz algumas novelas, mas nunca esquecendo a dublagem que sempre foi uma paixão minha – Revela Élcio.

Alguns papéis os dubladores não passavam por processo seletivos, eles eram escolhidos para dublar. Romar conta que foi o que aconteceu com o Sirius Black, ele foi chamado, “Mandou a voz” e conseguiu o papel. 

Agradecendo aos fãs por valorizarem seu trabalho e a dublagem brasileira, Élcio explica que é um prazer poder estar presente, depois de tanto tempo, em um evento como a MagicCon.

Painel Elenco de A Very Potter Musical Brasil

Ovacionados pela plateia, um a um do elenco de AVPMB foram se posicionando no palco. Marcaram presença: Felipe Assis Brasil, Danielle Salmória, Deco Flores, Alina Cunha, Letícia Kleemann, Gabriel Reis, Joceli Guedes, Marta Monaretto.

A primeira apresentação do musical foi realizada e pensada para acontecer na versão de 2017 da convenção. Os atores relembram as dificuldades, os momentos mais emocionantes e aquelas situações que os fãs desconheciam. 

Com o sucesso do Tik Tok, ressurgiu a fama do AVPMB com vídeos das cenas. Os participantes do painel comentaram que acreditavam que havia caído no esquecimento a obra. Revelaram estar muito gratos com toda a repercussão. 

O projeto foi realizado de forma voluntária por fãs, com o intuito de adaptar as peças de teatro musical construídas na Universidade de Michigan (A Very Potter Musical, A Very Potter Sequel e A Very Potter Senior Year). 

Contabilizando 2 horas e 30 minutos, A Very Potter Musical Brasil está disponível para assistir gratuitamente no Youtube. 

Show Triluxo: Drag Queens no Mundo Bruxo

O palco é tomado pela eletrizante apresentação que reconta momentos importantes da história de Harry Potter, mesclando referências a cultura pop e a representatividade LGBTQIA+. O show é realizado por Lo Litta, Seripha Sigma e Rebeca Rebu que utilizam o palco e a descontração para trazer também críticas, um exemplo disso é a revelação, em um dado momento da apresentação, do turbante do professor Quirrell que revela conter em sua cabeça, ao invés de Voldemort, a própria autora da obra J.K Rowling. Fazendo assim uma sátira e comparação com o que o vilão representa, uma vez que a autora possui um posicionamento transfóbico e não demonstra ter abertura para mudar isso.

A plateia é formada pela mais diversa faixa etária e todos demonstraram se divertir e acolher a comunidade, no Meet & Greet foi visível o interesse dos fãs de tirar fotos e aproveitar o espaço para interagir com as drags. Em entrevista ao Potterish, Seripha comenta: “A quantidade de crianças que vêm ao show é muito legal. Elas são as que mais amam, que vêm depois no Meet & Greet conversar.” 

Esse espaço é de extrema importância para que as crianças saibam que podem ser quem quiserem, que existe essa zona protegida contra qualquer preconceito.

Demais atrações…

Entre um painel e outro era possível ir até a Travessa das gostosuras e tomar uma cerveja amanteigada do Caldeirão Furado, comer um bolo “happee birthdae harry” da Rocambole e até mesmo se deslocar até a Travessa dos Artistas para adquirir uma varinha original da Hocus Pocus, além de poder eternizar o amor a saga com uma tatuagem da Cadê Amélia Tattoo.

Algumas outras atrações aconteceram, como o painel de empreendedorismo mágico em que os donos de alguns estabelecimentos pudessem contar os desafios de manter um negócio nichado e como surgiu a ideia. 

Estiveram presentes também no painel bruxas do Tik Tok, Giulia On Fire e Bia Glion para falar sobre seu amor pela saga e o sucesso de seus perfis. Os youtubers Caco Cardassi –  Criador, produtor, roteirista e apresentador do Caldeirão Furado –  e Thiego Novais – Jornalista, Co-criador do Reduto Nerd e criador e proprietário do canal Observatório  Potter – também puderam dividir o palco para conversar com os fãs sobre seus canais. Posteriormente, houve uma disputa do Torneio Bruxo com TikTokers x Youtubers e dessa vez, Caco e Thiego levaram a melhor. 

Finalizando as 12h de entretenimento, o show de encerramento da MagicCon foi realizado com a apresentação de algumas atrações musicais marcantes do AVPMB. Cansados e realizados, pouco a pouco a plateia foi se dirigindo para o último Meet & Greet, a fim de registrar o encontro com o elenco em uma fotografia. 

A magia, de fato, aconteceu! ✴