Star Wars: Os Últimos Jedi | É a fagulha que acende o fogo da nossa esperança

Um dos mais aguardados filmes do ano, sem sombras de dúvidas, Os Últimos Jedi rendeu já em sua estreia 220 milhões, sendo também um dos filmes mais longo da franquia, o Episódio VIII tem 153min de duração. A direção e roteiro são de Rian Johnson, que já preciso adiantar possui uma sensibilidade ao retratar algumas cenas e também desenvolver peso dramático, o que agregou muito para a história do filme. Mas, antes de entrarmos, em maiores detalhes é melhor conferirmos um pouco sobre o que se trata o segundo filme da nova trilogia.

It’s time for spoiler to end.
Sem spoilers.

Sinopse:

Após encontrar o mítico e recluso Luke Skywalker (Mark Hammil) em uma ilha isolada, a jovem Rey (Daisy Ridley) busca entender o balanço da Força a partir dos ensinamentos do mestre jedi. Paralelamente, o Primeiro Império de Kylo Ren (Adam Driver) se reorganiza para enfrentar a Resistência.

Os Últimos Jedi inicia-se logo após os acontecimentos do Episódio VII, temos então a continuidade da cena em que Rey vai até Ahch-To encontrar-se com Luke, além de também acompanhar os passos da Resistência durante esse evento. Há, portanto, um paralelo entre as histórias e desenvolvimento dos personagens, o que acaba sendo estendido ao longo do filme até, é claro, o momento em que os personagens se encontram. Isso acaba sendo bastante interessante, pois como bem sabemos o tempo todo as coisas estão acontecendo simultaneamente e durante um período de guerra não é muito diferente, inclusive até temos mais eventos acontecendo de maneira simultanea, devido a todo clima de urgência que a precede. Nesse aspecto, o longaalcança algo bem mais próximo da realidade. 
Houve controvérsias a respeito de O Despertar da Força, muito se questionou o quão familiar demais se parecia com Uma Nova Esperança e o resgate dessa familiaridade faz de certa forma sentido, quando analisamos o contexto em que ele está inserido, muitos anos se passaram até que os filmes de Star Wars retornassem ao cinema, então era preciso uma retomada, trazer ao público algo que os deixassem nostálgicos e que sentissem que estavam vendo Star Wars, apesar de não concordar que deveria se parecer demais, compreendo o porquê de ter sido e a sua importância. No entanto, podemos ver o quanto muitos fãs reclamaram disso e de certa forma em Os Últimos Jedi, Rian Johnson pode inovar no que é uma história Star Wars, assim como Rogue One já apresentava elementos novos, no Episódio VIII podemos ver o tanto de liberdade criativa que o diretor teve e que soube aproveitar ela muito bem.

Quando assistimos Os Últimos Jedi, temos aquela sensação de estar vendo um filme de Star Wars, pois vários elementos da trilogia clássica estão presentes, há vários objetos que representam simbolicamente para nós fãs que já acompanhamos a franquia, mas também há novas coisas, novos personagens, novos lugares, novas espécies, uma galáxia toda a ser explorada e que isso já foi iniciado, isso é de extrema importância para alcançar e fazer novos fãs, para chegar para uma geração que não é a mesma que assistia a clássica, no entanto, para nos mostrar que existe muito mais de Star Wars por aí. O Episódio VIII precisava trilhar seu próprio caminho com originalidade e não ficar a sombra dos restantes dos filmes da franquia, se não qual seria a graça de assistir um novo filme, sendo que ele segue toda uma mesma fórmula já usada anteriormente? Ainda mais quando claramente o Universo de Star Wars permite infinitas outras possibilidades, não podemos negar o quanto ele é um universo vasto e que foi muito bem utilizado no segundo filme dessa trilogia. 
Rian Johnson conseguiu desenvolver a medida certa entre retomar elementos importantes da franquia ao mesmo tempo em que explora novos para, no futuro, torná-los também elementos que serão vistos como simbólicos. Um roteiro que entretém, mas também que faz repensar. Um roteiro que te faz rir, para em algum momento também te fazer chorar. Um roteiro que te toca, te sensibiliza, mas que também te diverte. Um roteiro que honra os personagens antigos, mas que também valoriza o desenvolvimento dos novos. Um roteiro que arrepia, que homenageia, que demonstra o potencial que Star Wars tem de ser de extrema importância para a cultura pop, para nós mesmos. A direção caminha perfeitamente com o roteiro e agrega para que tudo isso seja proporcionado ao espectador, ao fã.

Um grande exemplo disso é como a Força é abordada no filme, todos nós já a conhecemos bem, é algo bem icónico dentro desse Universo, mas mesmo assim Rian conseguiu nos presentear com uma representação incrível dela. Quando Rey tem contato com a Força e explica onde ela se encontra, vemos que a Força é algo que está nos menores detalhes, que não pertence apenas aos Jedi ou aos  Siths e demais usuários do lado negro, a Força é algo que está presente em tudo e em todos. Já tínhamos um vislumbre disso em outros filmes da franquia, mas a forma como isso foi mostrada e a importância para que tem dentro dessa narrativa é algo excepcionalmente incrível, tanto por retomar algo que é de extrema importância para esse universo, quanto por trazer certa inovação, pois vemos isso servir a um novo propósito. Inclusive, dá todo respaldo para uma cena em que uma personagem importante utiliza a Força de forma diferente e que nunca foi visto ela usando dessa forma, mas como bem sabemos e nos foi relembrado no filme, a Força está e pertence a todos.

A questão do equilíbrio entre a Força é algo que já vinha sendo falado e abordado aos poucos nos filmes e que agora tivemos um maior vislumbre de como isso funciona. Não vou negar que queria muito que os Jedi Cinza fossem abordados, mas jogar minhas expectativas como motivos para desmerecer Os Últimos Jedi é bem injusto, pois foi algo nutrido por mim mesma e ainda que não tive elas atendidas, o filme me surpreendeu de uma forma inimaginável e isso é uma experiência que vale muito a pena. Poder presenciar o que é a Força em sua essência e conhecer mais do que ela é capaz, foi algo espetacular, dizer que o Episódio VIII não homenageia e celebra o Universo de Star Wars é um equivoco gigante.

Nota da Pinguim: Queria falar de tanta coisa, mas tenho que me conter para não dar spoilers, tem tanta coisa que é pura obra de arte, sério!

Se tem uma coisa que não faltou foi bom desenvolvimento para os personagens, tivemos vários, sendo eles novos e outros já bem conhecidos por nós, mas que tiveram o tempo de tela, em sua grande maioria, necessário para que suas subtramas se desenrolassem. Até mesmo aqueles personagens que não conhecemos tão profundamente, foram capazes de gerar um grande impacto para os acontecimentos do longa e a gente pode sentir muito bem a sua importância, seus sacrifícios, suas motivações, além de entender muito bem suas personalidades. Os herois sem nomes, que deram suas vidas para que outras fossem salvas em nome da Resistência são lembrados, seja por meio de outros personagens e até mesmo por meio dos acontecimentos, a gente sofre as suas perdas.

Deram a nossa General Leia toda a dignidade que ela merece, toda a representação do que ela é para toda uma velha e nova geração está ali presente, quando digo isso me refiro não só as gerações abordadas no filme, mas também na importância que ela teve ao longo das gerações de espectadores, de fãs. Leia é uma mulher forte, que sofreu perdas, mas não perdeu suas esperanças, que se manteve firme quando tudo estava desmoronando, que inspirou como líder e como pessoa. E, tudo isso, podemos ver ainda com mais intensidade em Os Últimos Jedi. Leia é a fagulha que acende o fogo da nossa esperança. Ela preenche a tela e nossos corações, não a vemos perder sua essência e se as cenas por si só já celebrariam tudo o que ela representa, mas que após a perda da incrível Carrie Fisher, temos uma resignificação maior, pois todas aquelas cenas e todo o filme em si é uma grande homenagem para a personagem e para aquela que deu vida, literalmente, a Leia.

Assim como sua personagem Carrie foi uma pessoa que tocou milhares de pessoas, que inspirou muitas mulheres, que se fez uma grande heroína, que foi uma pessoa incrivelmente inspiradora e que acima de tudo foi ela mesma, com sinceridade sempre.

Triste é saber que esse filme encaminhava a história da nossa General para uma narrativa que focaria ainda mais nela no próximo episódio e que isso nos foi tirado pelo destino, pela vida. Triste é sofrer essa perda enorme. Triste é saber que nunca teremos isso, mas que ao menos ela foi retratada com o maior respeito, dignidade e teve todo seu legado homenageado.

Inclusive, gostaria de destacar o quão bem trabalhadas foram as personagens femininas no longa, todas tiveram suas importâncias destacadas, sua motivações bem desenvolvidas e desfechos merecidos. Fiquei imensamente feliz em poder ter presenciado isso. A Almirante Holdo foi uma das personagens que ganhou espaço no meu coração pela sua bravura e personalidade, ela conseguiu nos cativar muito bem, sendo uma líder que demonstra sua força, bondade e altruísmo. Sem a almirante a esperança não teria tido espaço para ser restaurada.

Temos em Os Últimos Jedi uma gama de personagens realistas, vemos os personagens encontrando cada vez mais seu caminho. Os personagens possuem nuances, profundidade e até mesmo camadas, conhecemos mais e mais sobre quem são, porque e pelo o que estão lutando. Rey desde o Episódio VII vem com essa crescente necessidade de compreender como usar a Força e entender qual seu propósito em meio a tudo isso que vem acontecendo entre Primeira Ordem e Resistência; Rey quer descobrir a sua origem e o que isso diz a respeito dela, autoconhecimento é algo adquirido por ela ao longo do filme.

Luke se encontra exilado, acreditando que o momento dos Jedi acabar chegou, vemos um Luke carregando o peso desses anos, o peso dos acontecimentos, o peso das consequências; suas motivações são claras, realistas e principalmente muito bem compreensíveis. Questões referentes ao que significa ser um mito, ser uma lenda, que tem lá as suas vantagens, mas que também possui suas consequências. O que acaba sendo muito interessante a se refletir, pois depende com qual finalidade e em que contexto isso estará sendo aplicado. Algo muito interessante é que podemos, assim, perceber que até mesmo os nossos grandes herois possuem defeitos, que tem seus atos glorificáveis, mas que também carregam falhas, como cada um de nós.

“O fracasso é o melhor professor.”

Quanto a Kylo vemos o quanto ele mudou, se antes ele se inspirava fortemente em Darth Vader e por consequência disso se colocava a sombra do avô, agora em Os Últimos Jedi, o vilão resolve seguir por conta própria e se tornar quem ele deve ser. A construção do vilão é claramente notável, conhecemos mais a fundo suas motivações, vemos mais a sua imposição e seu desejo por poder. Inclusive, Adam Driver interpretou ainda melhor seu personagem, agora dando mais espaço para cenas sem a máscara, o que nos permite ver com mais clareza suas emoções e reações perante as situações, o ódio é muito bem explorado em suas atitudes, mas principalmente em seu rosto, em seus olhos. Os conflitos que o vilão passa, mais uma vez, o ator consegue imprimir. Kylo Ren agora passa a seguir um caminho próprio, movido por si mesmo e sua sede de poder.

A fotografia além de deslumbrante, nos traz em diversos momentos a atmosfera necessária para que possamos juntamente com o roteiro, direção e figurino imergir na história, no ambiente e na situação. Quero destacar as cenas finais, na batalha de Crait, em a mistura dos sais com a poeira avermelhada causada pelo solo cheio de cristais vermelhos, nos gera a impressão de que o próprio chão sangra durante a batalha e como escolha incrível do diretor em alguns momentos somos enganados, acreditando que o sangue é de algum personagem, quando não é. Temos visualmente representado a violência daquele ambiente através desse aspecto. Vale ressaltar, ainda em Crait, a beleza visual do planeta, os enquadramentos das câmaras que resultam em belíssimas fotografias, em que a composição dos AT-M6 no solo branco e ao fundo as cores do entardecer, revelam uma imponência marcante da Primeira Ordem. Além de usarem muito bem o jogo de luz e sombra durante o filme, uma vez que quando Kylo aparecia seu ambiente era sempre sombrio, enquanto com a Rey era sempre iluminado.

As famigeradas piadas estavam presentes, no entanto, em nada atrapalham o curso da história, apenas acrescentam descontrações a momentos em que a diversão era prioridade. Nos momentos em que a seriedade e dramaticidade eram precisas foi optado por seguir esse caminho e deixar as piadas de lado. Muito vi os fãs reclamarem que tinha piada demais, mas sempre vale lembrar que até mesmo na trilogia original, George Lucas fez bastante uso delas, além de utilizar os personagens para servir como alívio cômico, um grande exemplo disso é o próprio C3PO. Único momento em que as piadas foram forçadas, ao meu ver, foi logo no inicio do filme com Poe tirando sarro do General Hux.

Star Wars: Os Últimos Jedi nos levanta várias questões importantes, como por exemplo, todo o arco focado em Canto Bight, a cidade-cassino, nos revela a exploração animal e infantil, além de mostrar o quanto muitos lucram com a guerra, sendo assim, financiando-a. Temos uma forte crítica a elite económica que explora e destroi a natureza, que não mede esforços para explorar sua própria espécie e que utiliza os meio possíveis para obter lucro, mesmo que isso signifique financiar a guerra. O lucro supera e está acima de tudo, isso de certa, forma é uma crítica a nossa própria sociedade capitalista, que visa sempre o dinheiro em detrimento das pessoas, animais e natureza.

O grande foco central da história é a representação de esperança e o que causa a falta dela, o quanto a mesma é extremamente importante, inclusive para nos motivar a seguir a diante, a não desistir mesmo quando tudo está desfavorável. Essa representação de esperança vem por meio  dos personagens também, como já citado anteriormente, Leia é um símbolo forte de esperança, assim como Luke e a própria Almirante Holdo. Há o tempo todo por parte da Resistência a busca por restaurar a esperança perdida, uma vez que o senso de urgência os acompanha durante o longa, pois estão encurralados e sendo atacados, enquanto isso a Primeira Ordem tenta cada vez mais minar a esperança não só dos seus inimigos como também de toda a Galáxia. Então, vemos o quanto a esperança é um elemento importantíssimo para ambos os lados.

No entanto, Os Últimos Jedi se faz extraordinário devido ao fato de ter a coragem de inovar dentro de um universo em que os fãs são extremamente críticos e muitas vezes fechados a mudanças, e o mais louvável disso é que conseguiu, além de tudo, também homenagear o legado de Star Wars, homenageando assim suas histórias e seus personagens através de poesia visual e de elementos que nos remetem as trilogias passadas. Inclusive, mostrar novas formas de utilizar a Força é algo que assim como abordado nesse episódio, precisa ser abordado nos próximos.

Grande exemplo disso é a cena final do Luke admirando em Ahch-To os dois sóis, se recordando assim de muito tempo atrás os dois sóis de seu planeta natal, Tatooine enquanto tem seu desfecho concluído. Um pouco sobre o Episódio VIII também é sobre mudanças, temos o contraste da nova geração que está surgindo, mas também uma antiga e que não precisamos ser que nem o Kylo Ren e matar nosso passado, temos que ser mais Rey e abraçar esses dois lado, entender que a vida é um ciclo e que as coisas assim como tem seu começo, elas também precisam ter seu fim. E tá tudo bem.

Enfim, Os Últimos Jedi é um grande marco dos filmes de Star Wars no cinema, pois traz uma identidade própria, sem deixar de lado todo o universo do qual faz parte, ao celebrar e homenagear seus personagens, seu público e seus filmes. As reviravoltas são surpreendentes, pois o longa nos desafia, pensamos: eu conheço tudo de Star Wars, eu sei o que vai acontecer e para onde isso vai levar para depois perceber que estávamos totalmente enganados. E isso é incrível, nossa expectativa é superada pelo filme. A sensação é de alegria por experimentar esta obra de arte no cinema e também de tristeza pelas perdas nas batalhas, mas tudo é feito com a dignidade merecida.

As batalhas épicas, de nos tirar o fôlego juntamente com os momentos emocionantes, de nos arrancar lágrimas que, ao final, fez com que a esperança das galáxias ser renovadas, a nossa e a deles.

A nota da Pinguim é:

(5 de 5 pinguinzinhos)
Mas, confere também a nota do IMDb:

Star Wars: The Last Jedi (2017) on IMDb

Acompanha a Pinguim Tagarela nas redes sociais para mais viagem pela Galáxia:

Então, tagarelem comigo, já assistiram Os Últimos Jedi? O que acharam? Gostaram dessa crítica?
Até a próxima tagarelice e lembrem-se que a Força esteja com vocês, sempre!


2 Replies to “Star Wars: Os Últimos Jedi | É a fagulha que acende o fogo da nossa esperança”

  1. Eu também daria 5 de 5, o filme é realmente MUITO bom. Também achei único e achei que abre portas pra filmes incríveis de Star Wars pela frente! Amei a crítica, dá pra ver que cê amou. <3

    blogdeclara.com

  2. Tenho que dizer, sou apaixonada pelas suas críticas. Tem um quê de amor e dedicação incríveis em cada uma delas, e isso deve ser reconhecido e celebrado. Parabéns!
    Conheci Star Wars com o " O despertar da Força", daí voltei e assisti todos os filmes e fiquei enlouquecida a fim de conhecer mais da franquia. Estou lendo Marcas da Guerra, e apesar das reclamações do sobre o livro, fiquei impressionada com a quantidade de espécies, personalidades, interesses que o universo reuni. Amei de coração essa crítica, e estou ansiosaaaa para conferir esse filme, um abraço!

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