Mãe! | Simbolismo e insanidade que geram múltiplas sensações

Escrito e dirigido por Darren Aronofsky – que dirigiu filmes como Cisne Negro, Réquiem para Um Sonho e Noé – Mãe! é um terror psicológico, um gênero do terror em que ao invés do medo vir do sentimento de repulsa ao sangue e da violência, ele vem da vulnerabilidade da mente humana a alguma situação ou sensação de desconforto psicológico, já posso adiantar que tal descrição não poderia se encaixar melhor para descrever o longa.

Vamos a sinopse?

Um casal vive em um imenso casarão no campo. Enquanto a jovem esposa (Jennifer Lawrence) passa os dias restaurando o lugar, afetado por um incêndio no passado, o marido mais velho (Javier Bardem) tenta desesperadamente recuperar a inspiração para voltar a escrever os poemas que o tornaram famoso. Os dias pacíficos se transformam com a chegada de uma série de visitantes que se impõem à rotina do casal e escondem suas verdadeiras intenções.

É complicado falar sobre Mãe! por toda a sua complexidade e dificuldade em ser digerido, além de que qualquer informação a mais pode ser considerada spoiler, mas não se preocupem, a pinguim garante que nas linhas a seguir estamos livres de spoilers.

Tudo começa quando assistimos ao trailer ou pelo menos foi comigo, a curiosidade é algo bem instigada, fizeram um ótimo trabalho, pois nada nos é revelado, mas ficamos o tempo todo querendo saber de algo que nem imaginamos o que será. Quando o longa inicia, não temos a menor ideia do que está por vir, é tudo tão confuso, as informações continuam ocultas de nós e da personagem, óbvio, mas calma, a compreensão maior da história se dará ao final ou talvez só uns dias depois de transcorrido o filme, acontece, sua trama é complexa e carregada em simbolismo e alegorias, fazendo bom uso até mesmo do surreal.

Aronofsky não poupa na hora de utilizar referências bíblicas, elementos que fazem metáforas a questão do relacionamento ser humano com a natureza e também expor a opressão da mulher em meio a sociedade. O diretor mescla questões sociais, ambientais e religiosas ao longo da obra, dando um peso incrível para a trama. Uma análise maior e com spoilers poderá ser feito pela Pinguim em outro momento!

Mãe! mexe com nossa cabeça, com nosso psicológico, pois são acionados em nós sensações que vão desde claustrofobia à angústia, sentimentos de invasão não são incomuns. Algo interessante é que a história não só perturba nossa mente, como também não deixou Aronofsky parar durante sua construção, segundo podemos observar em um relato que ele deu à uma entrevista concedida a um podcast: “geralmente, a produção de um filme leva anos, mas Mãe! aconteceu em um espaço de 5 dias. Quando eu tive essa ideia, veio como uma espécie de delírio. Eu não dormi nesse tempo, sozinho na minha casa, martelando o teclado…”

Algo bastante marcante na obra é a representação da violência, tanto física quanto psicológica, sendo ambas extremamente fortes. A trilha sonora colabora bem demais para a construção do clima de tensão, apreensão e até mesmo claustrofobia, a isso devemos também o uso da câmera, pois na maior parte do tempo o foco da mesma é direcionado a personagem de Lawrence, todas as sensações e sentimentos dela são expostos através da grande atuação de Jennifer e também através desse recurso de câmera que a acompanha e mostra o campo de visão da sua personagem. Estamos quase que sempre em sua presença, não vemos nada que não seja sob sua ótica e isso permite nos permite experimentar a tontura, a sensação de estar perdida, invadida e sozinhas, sensações que a Mãe sente.

O ritmo do longa é gradual, começa de vagar e vai tomando conta, nos tirando o fôlego, nos prendendo a atenção cada vez mais e causando em nós uma curiosidade que não para de crescer. Tornando, portanto, o filme em algo incrivelmente bom de assistir, pois a cada acontecimento queremos juntar com os elementos que já nos foram revelados e assim chegar mais perto de compreender tudo em um plano mais geral. Fiquei extremamente feliz em ter assistido no cinema, valeu cada experiência que o filme proporciona.

Leia também: A Chegada | Questões humanas são muito bem construídas no longa

Apesar de toda a sua complexidade, Aronofsky produziu tão bem a história que é possível entender o filme, nem que seja alguma coisa, pois a trama é construída com base em referências a vários elementos que estamos acostumados a presenciar ou conhecer no mundo, mesmo que haja várias camadas para representar os elementos, mesmo que haja simbolismos em demasiado, ainda assim é possível extrair algo, principalmente porque estamos experimentando múltiplas sensações e sentimentos, partes de nós está sendo estimuladas, estamos absorvendo informações, portanto, toda experiência individual conta. Não é de se negar que Mãe! é difícil de se digerir com pressa e precisamos, sim, pensar sobre e analisar tudo o que nos está sendo apresentado, mas, também não podemos dizer que não compreendemos nada da trama.

As questões abordadas em Mãe! são bem polêmicas, pois ao trabalhar com algumas visões diferentes sobre determinados assuntos, muitos podem sentir que suas ideologias foram atacadas, por isso, é preciso ter a mente um pouco mais aberta para se permitir enxergar as coisas sob outros aspectos.

Vi algumas pessoas criticarem o filme dizendo que não deveria existir, pois o longa possui cenas fortíssimas e isso incomoda de certa forma – todo o enredo acaba provocando incômodo, esse é o propósito -, mas enfim, estavam reclamando de que é muito bizarro, perturbador demais e inaceitável, usando tais questões como motivos para o filme ser ruim, no entanto, gostaria de salientar que a arte não existe apenas com o propósito de ser bonitinha ou sempre agradável, pode ser, mas não é regra. A arte pode ser criada para causar incômodo, gerar desconforto, chocar a até mesmo nos fazer debater sobre as temáticas, pode existir por múltiplos motivos, então precisamos analisá-la dentro do contexto em que se apresenta. Certo? E o propósito de Mãe! é mesmo o de nos causar sensações desconfortáveis, apelando para o nosso psicológico e sendo assim se encaixa perfeitamente no gênero do qual faz parte.


Enfim, sem mais delongas, Mãe! é uma produção inteligente e podemos dizer que até mesmo audaciosa, mas que cumpre seu propósito. É uma obra impactante, que possui muito a ser discutido, que apresenta várias alegorias e referências, mas que não se limita por isso, nos permitindo ter experiências próprias, além de se abrir a várias interpretações. O que a pinguim acredita ser o ponto mais essencial e incrível da trama. A fotografia é maravilhosa e as atuações também. Mas, acima de tudo, possui um final surpreendente, igualmente chocante e que não sairá da nossa cabeça por muito tempo. Obrigada, Aranofsky pela obra de arte!

Curiosidade: A Jennifer Lawrence rompeu o diafragma e deslocou a costela e depois de assistir entendemos o porquê.

Tagarelem comigo, assistiram no cinema? O que mais acharam interessante no longa? Deu aquela vontade de ver? Espero que sim!

Até a próxima tagarelice e lembre-se de não abrir a porta para qualquer um.

7 Replies to “Mãe! | Simbolismo e insanidade que geram múltiplas sensações”

  1. Uma experiência incrível ter assistido no cinema né? Não tinha visto ainda sobre referência ao filósofo Nicht, vou dar uma procurada para saber mais. É um baita filme complexo, fala de tudo um pouco hahaha

    Vou esperar sair a versão digital para ver de novo, pois é muito certo que deixei passar várias coisas, já que o filme é cheio de detalhes e tem um ritmo rápido.

    Ainda não assisti, mas quero muito, com a tua indicação me deu ainda mais vontade, já vou adicionar como próximo da lista. Obrigada <3

  2. AAA, muito obrigada. Repercutiu bastante, né? Vi o trailer um dia porque apareceu na timeline e meu deus, fiquei com uma curiosidade que tu não faz ideia. Uma pena ter que esperar, mas tomara que não demore muito para sair e espero que tu goste.

    Beijos

  3. Assisti no cinema e não sabia o que sentir, o filme é realmente incrível e eu não soube ao que associar, vi algumas pessoas falando ter referencia ao Filósofo Nicht, mas também lembra muito fazer referencias a bíblia, além de falar sobre amor, idolatria, luxuria talvez, muito complexo. Até hoje não sei o que pensar.
    Talvez você já tenha assistido, mas eu recomendo o ' Animais Noturnos'

    http://www.dosecriativa.com/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *