Limbo | História caminha entre a realidade e o irreal

Limbo é um livro independente do autor Thiago D’Evecque, contém 243 páginas e tem por gênero a fantasia sombria. A trama é focado no mistério envolvendo a identidade da sua personagem, que ao longo da narrativa descobriremos, somos instigados desde o começo, uma vez que nem a personagem sabe quem é e tampouco conhecemos o universo do qual a mesma faz parte, mas já posso ressaltar que não leva muito tempo para a atmosfera do ambiente nos englobar.

Sinopse:

O Limbo é para onde todas as almas vão após a morte. Além de humanos, deuses esquecidos e espíritos lendários também vagam pelo plano. Muitas almas sabem exatamente onde estão e por que; a maioria, entretanto, ainda tem a impressão de estar viva. A morte é um hábito difícil de se acostumar. Um dos espíritos residentes no Limbo acorda sem nenhuma lembrança de sua identidade. Ele descobre que a Terra está prestes a ser destruída pelos próprios humanos e fica encarregado de enviar doze almas heroicas de volta. Elas reencarnarão no plano dos homens e tentarão reverter o quadro apocalíptico. Contudo, poucas almas encaram o retorno com bons olhos. O espírito deve, então, forçá-las. Armado, de preferência. Assim, resolve visitar um velho amigo: Azazel, anjo ferreiro e primeiro escolhido da lista. O espírito descobre mais sobre quem realmente é, ouve uma versão completamente diferente sobre a rebelião dos anjos e é presenteado com uma surpresa de péssimo gosto.

Queria ler a história tinha um tempo, por meio da pfarceria em que o livro foi cedido pelo autor para resenha, pude finalmente adentrar nessa fantástica aventura. A própria sinopse já se revela bastante interessante e não é por menos, pois a premissa é incrível e logo queremos conhecer mais cada parte do espaço que compõe a narrativa. Queremos saber o que, de fato, está se passando no limbo, porque esse espírito foi despertado e a que fim levará essa jornada iniciada pelo mesmo. A conexão entre os mundo é tão forte, que simplesmente não queremos nos desconectar, um fator que colabora para isso é a utilização de referências ao nosso mundo real, ao que conhecemos por cultura pop, esse paralelo permite que a gente consiga traçar uma linha entre o real e o irreal, tornando tudo a mesma coisa. Esse é o ponto mais incrível da leitura, a viagem que podemos fazer a outras realidade e Thiago nos dá livre acesso ao Limbo.

O livro contém bastante descrições, mas em nenhum momento elas são maçantes ou excessivas, na verdade são tão bem escritas que criam a exata imagem, em nosso imaginário, do que está descrevendo. Todo detalhamento se faz importante para a construção da história dentro da nossa mente, principalmente nas trocas de cenários, em que precisamos não só saber, mas presenciar o que cada lugar significa para cada habitante do Limbo, pois diz muito sobre suas identidades, quem são e o que fizeram para ali estar. Aqueles que estão no Limbo são deuses, espíritos, grandes líderes e até mesmo figuras mitológicas, inclusive a trama se constroi através de várias mitologias e se consolida ao mostrar visões diferentes das atreladas popularmente, nos permitindo assim expandir nossos horizontes e ampliar nossa capacidade de questionar as coisas, será que tudo é sempre do exato jeito que nos contam?
Thiago possui uma escrita maravilhosa, dando vida aos personagens, ao ambiente e nos entregando as informações que precisamos para fazer parte daquele universo. Sua capacidade em desenvolver bem a história, nos permite criar uma cadência incrível de leitura, nos lembrando até mesmo a jornada e ritmo de Percy Jackson, o que confesso, me fez ter ainda mais apreço pela história. Vocês bem sabem que sou muito fã de PJO. Não sei se essa foi uma decisão consciente do autor, mas podemos levantar da mesma forma como um ponto bem positivo. 

“E o mal riu com ele.”

“Uma entidade que ignorou a sua natureza e resolveu ter suas próprias regras de existência.”

Em cada capítulo temos um arco, ou seja, cada capítulo nos leva a conhecer uma das doze almas que o espírito tem a missão de enviar a terra, cada um servindo a um propósito a humanidade, por meio de características que se destacam e nisso tiramos grandes ensinamentos seja pelo diálogo entre as personagens ou através da descrição daquele que é nosso protagonista. Cada uma daquelas almas representam algo que nós precisamos, como citado anteriormente, o livro trabalha no limiar entre realidade e irrealidade, logo, seus ensinamentos são tão profundos que atravessam das páginas do livro para a nossa vida real. Como seres humanos precisamos ser, por exemplo, mais humildades, demonstrar mais amor, entre outras características e elementos. Não só precisamos disso, como necessitamos de modelos, de pessoas que nos inspirem, de líderes que nos guiem, de deuses ou entidades para promover em nós alguma fé que nos mova a ser melhor. Limbo retrata muito bem como a humanidade precisa da representação, por isso, as crenças, sejam elas religiosas, mitológicas, em figuras de poder, em si próprio ou em qualquer coisa do gênero, são tão presentes na nossa cultura. 

Questionamento da religião: “Um deus que é amor e perdão, mas dita sentenças de danação e sofrimento eterno porque não seguiram a risca o que ele quer.”

Outra coisa louvável é que ao longo da leitura vamos nos deparando com algumas coisas interessantes e importantes, como, por exemplo, o machismo, em vários momentos, temos umas cutucadas ao patriarcado, falando da falta de representatividade heroica, não por ela não existir, mas não receber o devido valor, pois como o próprio livro mostra há figuras bem marcantes de heroísmo que são mulheres, mas sempre elas são colocadas de lado para outros nomes masculinos tomar a frente e isso é um problema. Fiquei extremamente feliz com o livro trazendo grandes heroínas femininas dos mitos, das religiões e figuras história. Precisamos muito disso.

O espírito que temos por protagonista durante a sua missão, vai descobrindo a si mesmo, a cada vez mais, conforme vai tendo contato com as almas, vai aprendendo mais sobre quem é, o autoconhecimento não se limita apenas ao espírito, mas também a humanidade, pois vamos vendo toda a podridão e todas as falhas que permeiam nossas sociedades, do quanto há maldade em nossos atos, no quanto há guerra, poluição, ganância que gera destruição e morte. Mas, também nos mostra que existem pessoas boas, que existe esperança para nós. 
A narrativa nos mostra um outro lado da história bíblica, nos fazendo refletir sobre sua natureza, mais especificamente aborda a batalha dos anjos, na tão conhecida rebelião, que como descreve o autor “não foi uma rebelião, foi um massacre.” O questionamento da natureza não se resume apenas a humana ou a de deus, mas sim, a dos anjos também por serem seres que vivem fazendo suas ações sob o pretexto das ordens divinas. Nos leva a pensar no quanto, muitas vezes, estamos todos ocupando um papel em uma história.
Tenho apenas uma ressalva quanto a conclusão da história e dos personagens, mais particularmente centrado em um, Cacá, o deus maligno que habita a espada espiritual do nosso espírito protagonista, o desfecho a ele dado é bem compreensível e a interação entre ambos também, apenas não considerei agradável sua redenção por parte do protagonista, pois como podemos presenciar Cacá é a representação do Cthullu de H.P Lovecraft, que como o próprio autor revela ter se inspirado e homenageado. Lovecraft era conhecido por ser racista e até mesmo machista, características atribuídas ao deus, então ao me deparar com o espírito aceitando a personalidade de Cacá e o reverenciando, me deixou um pouco decepcionada, pois acredito que seria mais justificável se o mesmo tivesse de fato mudado, o que não ficou entendido que aconteceu. Conseguimos perceber durante a história que as coisas que o deus diz é ultrapassado e quão ridículo é os preconceitos, apenas acredito que poderia ter sido melhor abordado sua desconstrução.

No entanto, o final é bem surpreendente, pois há uma reviravolta inesperada, a visão do autor sobre determinada figura bíblica é interessantíssima, nos levando mais uma vez ao questionamento, será que tudo é, de fato, do jeito que parece? Ou há mais história por baixo dos panos? Questionamentos que devemos carregar conosco e usar sempre.
Enfim, Limbo é uma ode a todos os deuses, figuras divinas e de crença, aos líderes humanos ou não humanos de todas as culturas. que nos leva a mitologias que repassam, muitas vezes, bons ensinamentos, sejam eles positivos ou não, sempre podemos aprender algo, senão como agir, ao menos o que devemos evitar ser.
Então, Limbo recebe:

(3,5 de 5 Pinguinzinhos, quase 4)

Nota da Pinguim: É incrível todo toque pessoal e humor meio ácido utilizado pelo autor, logo na introdução (?) percebemos isso ao descobrir o quanto a história surgiu como uma homenagem ao escritor que permitiu ao Thiago conhecer o gênero. Seja nas notas ao final do livro em que ele nos conta um pouco sobre seu processo criativo, escolha dos personagens e sua visão sobre as coisas. Ter esse contato mesmo que indireto com quem escreve é sempre maravilhoso, nos proporciona uma ligação ainda maior com a narrativa do livro. Conheça mais sobre o autor aqui.
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Até a próxima tagarelice e lembrem-se do despertar no Limbo.

6 Replies to “Limbo | História caminha entre a realidade e o irreal”

  1. Eu já tinha me interessado pelo livro logo no primeiro parágrafo da resenha e aí você vai e cita Percy Jackson. Meu coração ficou mais quentinho, não vou negar ❤
    E sobre as cutucadas ao patriarcado, adoro!
    Ótima resenha, ficou muito bem escrita 🙂

  2. Não conhecia seu blog e preciso dizer que ameeei o nome e o layout ahaha Também não conhecia o livro de Thiago D'Evecque, tenho pouco costume de ler livros de fantasia sombria, mas me parece um gênero literário sensacional. Adorei sua resenha e suas reflexões sobre o livro! Suas fotos ficaram lindas <3

  3. Olá.
    Confesso que não é uma leitura que me atraia, gosto de coisas mais fofinhas. Ou então suspense. Mas parece uma boa história.
    Quem sabe em outro momento. Gostei da sua resenha, sincera, objetiva e ao mesmo tempo cheia de detalhes.

  4. Menina, eu li a sinopse e logo me remeteu a Percy Jackson também, e já fiquei curiosa pra ler. Ao longo do seu texto me remeteu um pouco ao universo da minha série favorita, Supernatural. Quero ler esse livro e parabéns pelo blog

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