A Grande Muralha | Um olhar rápido sobre a Cultura Chinesa

“A grande muralha” estreou dia 23/02 no Brasil e eu tive a oportunidade de assistir três dias antes de seu lançamento, mas só agora consegui liberar essa resenha (por alguns motivos particulares), então trago para vocês minha visão a respeito do mesmo.

Em coprodução com a China, o filme americano tem por diretor Zhang Yimou – que em sua carreira conta com algumas obras indicadas ao Oscar, uma delas, inclusive, nomeada devido a sua fotografia (O clã das adagas voadoras)

O longa, antes de tudo, é uma história de aventura/fantasia, digo isso, pois devido ao título podemos ter a ideia de que o filme irá retratar a construção da muralha ou pensar que será sobre uma ótica mais histórica, porém, a premissa é um tanto quanto diferente disso, a história da qual o filme quer contar terá como fonte o Folclore Chinês, que diz que a grande muralha foi construída para barrar a entrada de forças malignas, no longa a representação disso são criaturas conhecidas como Tao Tei. É extremamente importante a representação dos mitos e lendas de outras culturas, ainda mais quando se trata de um País Oriental, pois não estamos familiarizados e muitas vezes temos pouco conhecimento a respeito de suas culturas e tradições. 


Agora seria um bom momento para saber a sinopse e conferir o trailer, não é mesmo?

No século XV, William (Matt Damon) e Tovar (Pedro Pascal) são dois mercenários em busca de “pó negro” (pólvora). Depois de escaparem do ataque de uma criatura misteriosa, eles se encontram, acidentalmente, aos pés da Grande Muralha. Lá, eles acabam aprisionados pelos guerreiros chineses, que estão na iminência de sofrerem um ataque. Reza a lenda que, a cada 60 anos, uma horda de monstros tenta transpassar a barreira, para se alimentar dos humanos que vivem do outro lado.


Os personagens não são tão aprofundados e foi uma das coisas que senti falta na trama, não se tem grandes preocupações em desenvolver os personagens ou dar um sentido amplo as suas motivações, algumas coisas são citadas brevemente e fica por isso mesmo. No entanto, os personagens não são ruins, muitos tem o seu carisma. Quanto a atuação, a Tian Jing, que interpreta a Comandante Lin Mae, brilha em sua performance, pois ela traz profundidade, traz algo mais concreto e mais real a sua personagem, sem dificuldade alguma passamos a admirar a personalidade da Comandante e em parte também devemos isso a grande atuação da atriz.

A fotografia de “A grande muralha” é deslumbrante, a utilização das cores e suas nuances combinadas com o ambiente das cenas transformaram o filme em algo visualmente espetacular. Quando a paleta de cores principal era cinza, utilizaram outros elementos para trazer vivacidade e até mesmo quando havia bastante cor em cena conseguiram trabalhar de uma maneira que todas elas harmonizassem. Tem uma cena que achei especialmente lindíssima, os personagens estão dentro de uma torre chinesa e os vitrais – que são bem coloridos – com a incidência da luz refletiam arco-íris para dentro do ambiente, a beleza que isso é proporcionado para quem está assistindo é enorme, sem contar que inúmeras vezes o uso da fotografia, da iluminação e da paleta de cores foram incorporadas como parte da história, como parte do filme, pois conversavam com o todo e junto com outros elementos transmitiam o que a cena deveria passar ao telespectador. Meus caros, isso é arte! 


O figurino também é louvável, não só pelas armaduras do Exército Chinês, que protege a Grande Muralha, pois toda a caracterização dos personagens é bem feita, mas gostaria de destacar especialmente as armaduras, pois a utilização de cores diferentes para designar unidades do Exército é visualmente muito bonito, além de que nas cenas de lutas traz um destaque especial e totalmente diferenciado, como uma explosão de cores. Outro ponto importante do figurino das armaduras é o próprio design delas, que carrega consigo a caracterização Oriental Chinesa.

Ainda dentro da questão visual do filme, temos a arquitetura que também nos leva para mais perto da Cultura Chinesa, os cenários fora da Muralha nos retratam justamente isso, como são as suas outras construções, o quão coloridas elas são, como é a cidade, os formatos das torres e casas. Está tudo ali bem visível aos nossos olhos, é só atentar os olhos para esses aspectos, o que pode requerer um pouquinho de foco, pois o filme é bastante acelerado e cheio de ação, mas acredite vale o esforço. E, claro, muito importante que através da arquitetura da Grande Muralha, eles conseguiram mostrar o poderio que ela possui e foi bem interessante o quanto conseguiram explorar esse lado e realmente mostrar ela como algo feito para proteger a Cidade Capital.

As cenas de ação foram extremamente bem feitas, utilizaram alguns recursos como, os ângulos  das câmeras e pausas para mostrar muito bem os movimentos durante as batalhas, a aplicação desses recursos foi certeira, pois escolheram os momentos adequados e devido a isso em nenhum momento tivemos nessas cenas a redução do ritmo do filme. As lutas que envolviam as artes marciais e acrobacias eram as melhores, são daquelas cenas de encher os olhos, de agradar quem é fascinado por esse estilo de luta e também quem não é. Não tem como explicar o quão incrível elas são, vocês precisam conferir por si mesmo.

Cada segmento do Exército conseguia trabalhar tão em sincronia que pareciam uma unidade, as habilidades combinadas geravam uma sintonia tão marcante nas cenas em que era preciso lutar, mas não para por aí, pois num todo mesmo tendo suas diferenças, eles conseguiam conviver em harmonia e funcionar muito bem em conjunto.


A trilha sonora é muito boa e destaco aqui os tambores utilizados pelo exército, pois ditam todo o ritmo do combate e nos transportam para dentro da ação, o som vai crescendo e com ele cresce também os movimentos das lutas, nesse crescente somos pegos dentro daquele clima, daquela atmosfera e isso é uma experiência ótima que o filme nos proporciona.

Todos esses elementos engrandecem o filme, cuja narrativa não possui muita inovação, e também traz vários toques de realidade a trama, no entanto, algo que destoa um pouco disso é o CGI, pois nas situações onde os Tao Tei entram em cena podemos notar o quanto essas criaturas são irreais até e principalmente dentro desse cenário tão realístico que eles criaram.

Por fim, a história traz um ensinamento importante sobre a ganância da humanidade, o quão prejudicial ela pode ser se não for nas medidas certas, o quanto precisamos trabalhar em cima dela e traz a confiança, a fé, a amizade e a lealdade como coisas essenciais as relações humanas.


Em meio a tantos pontos positivos do filme, tenho algumas ressalvas que não poderia deixar de citar, pois a resenha tem por objetivo mostrar um panorama geral da obra e isso inclui os pontos negativos também. Então, algo que me incomodou bastante na trama é a de colocar um protagonista Não-Chinês como heroi, acredito que se tratando de uma história sobre uma Cultura Oriental ter um Ocidental como heroi é reforçar o esteriótipo de que somos os salvadores e eu particularmente não acho essa visão nem um pouco certa e tampouco interessante. Acredito que a ideia era de mostrar uma relação amigável e uma união entre o Ocidente e o Oriente através dos dois protagonistas, porém caiu no esteriótipo, pois era mesmo necessário ter um americano ajudando eles na manutenção de sua própria tradição? Tinha meios para ser diferente, uma pena que não foi.

AQUI PODE TER UM SPOILER LEVE, LEIA POR SUA CONTA E RISCO.


Pero (Pedro Pascal) à esquerda e William (Matt Damon) à direita.

Tanto o protagonista William (Matt Damon) quanto Pero (Pedro Pascal), o seu companheiro, estavam interessados em roubar o pó negro – a pólvora -, no entanto o personagem de Damon teve sua remissão e passou a ser visto como heroi, já Pero seguiu sendo o criminoso e o problema, mais uma vez, seguindo o esteriótipo, visto que o personagem de Pedro é Latino. Meio ultrapassado essas coisas, vocês não acham? É triste, pois o personagem poderia ser usado para trazer representatividade latina, poderiam ter investido na diversidade de uma maneira a não reforçar esteriótipos.

FIM DA ÁREA DE RISCO DE SPOILER: Pode voltar a ler normalmente!


Comandante Lin Mae (Tian Jing)

E a última ressalva diz respeito as mulheres do filme, além de todas serem bem jovens e bonitas enquanto os homens eram todos aparentemente mais velhos, tem o problema da separação delas em apenas um único segmento do Exército, as mulheres são as que fazem o salto e as acrobacias na hora da luta – e isso é bem badass-, no entanto só as vemos nesse segmento, enquanto há homens em todos os outros, pelo menos no posto de Comandante, o mais alto da hierarquia, é ocupado pela Lin, porém não diminui o fato de que deveria possuir mais mulheres em outras divisões do Exército. Inclusive, senti falta delas no segmento em que há arqueiros, por ser um artifício que eu admiro, seria incrível lutando com arco e flecha, faltou representação feminina em outras posições hierárquicas e isso é um ponto bem negativo do filme.

“A grande muralha” tem seus pontos altos, o que o torna um bom filme, poderia ser espetacular, mas esses pequenos detalhes que não foram bem ajustados, o impediram de chegar a tal posição. No entanto, todo o aspecto visual é de fazer o queixo cair e pela história carregar uma adaptação de uma cultura a que temos pouco acesso, faz valer a experiência de assistir a obra.


E, devido a tudo isso, a nota é:
(3 de 5 pinguinzinhos)

Confira também a nota do IMDb:

A Grande Muralha (2016) on IMDb

Tagarelem comigo, o que acharam? Querem assistir? Já assistiram? Ah, não esquece de compartilhar nas redes sociais, se você gostou, assim mais pessoas tem oportunidade de entrar na nossa rodinha de tagarelas.

Acompanhe a Pinguim Tagarela nas redes sociais, lá vocês encontrarão mais conteúdo sobre filmes:

 Facebook Instagram Twitter
Preparados para enfrentar os Tao Tei? Se não estiverem, preparem-se e até a próxima tagarelice!

2 Replies to “A Grande Muralha | Um olhar rápido sobre a Cultura Chinesa”

  1. Sei bem como é, ando com as coisas tudo atrasadas também, não tá fácil hahha

    Uma das coisas que chamou muito minha atenção no filme foi a fotografia e tentei mostrar isso através das imagens no post. Se assistir, me diz depois o que achou <3

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *